domingo, junho 19

Sobre a educação no Brasil. Ou não.


    Faz tempo que estou para escrever algo que preste sobre isso. Penso, penso e não sai nada. As linhas abaixo foram tudo o que consegui.

   Ah! Aviso aos navegantes: nesse texto não usarei as ironias habituais. Nada de piadas aqui.



    Certo dia um professor de cursinho meu sintetizou muitos pensamentos que eu tinha – cujos eu não tinha a capacidade nem de organizar, quanto mais sintetizar-. Ele disse o seguinte:

“O pai de classe média/alta tem consciência de que o filho precisa ter uma boa formação e a valoriza, por isso os filhos só começam a trabalhar na faculdade. Já o pai de classe inferior vê no filho –quando chega certa idade- um trabalhador em potencial, uma pessoa que tem que produzir.

   Mas o texto não era sobre educação? Ora, as atitudes nada mais são do que um reflexo dela. O pai tende a passar pro filho a educação que recebeu (ou quem sabe – e essa eu acho mais difícil- adquiriu). O primeiro pode dar ao filho regalias e confortos (sendo a garantia de um futuro bom o melhor deles). E o segundo, o que tem a passar? A necessidade de ganhar dinheiro a qualquer custo, de qualquer forma. Ele não liga se o filho vai –provavelmente- ganhar uma mixaria a vida toda. Ele conviveu com essa mixaria. Ele simplesmente não se importa. Culpa dele? Não, culpa da educação que ele recebeu, simples como isso. A educação que deveria abrir portas, fechando as do futuro no nosso país.

    Vê-se, pois, bem as duas vertentes da educação no Brasil. A primeira é a que – de fato- podemos chamar de educação. A que propicia um ensino superior de qualidade, mais conforto (bem mais conforto) para quem a recebe e não precisa trabalhar antes do devido tempo. É a educação dos patrões, os que são treinados para pensar. 

  A segunda? A segunda é dada por quem não quer que seu filho aprenda (afinal, alguém tem que lavar os pratos). A segunda é aquela em que, aos dezesseis, você é apresentado a um trabalho mecânico (muito mal pago, por sinal) que nada lhe acrescentará intelectualmente. Mas é melhor. É melhor não pensar, não contestar, se acostumar. É melhor para todo mundo, só não é melhor pra você. Mas tudo bem, você nem sabe disso mesmo. É a educação dos empregados, treinados para não pensar.

   Triste. É a única palavra que me vem à mente para sintetizar tudo isso. Triste saber que são realidades tão opostas que convivem lado a lado. No mesmo país, no mesmo estado, na mesma cidade, no mesmo bairro. No mesmo bairro.

  Às vezes me pergunto o que o jovem trabalhador faria se uma nova realidade lhe fosse apresentada. Se ele soubesse que poderia ser ele ali no berço de ouro. Pior, se ele quisesse estar lá.

domingo, maio 15

Muito ajuda quem não atrapalha.


Agora que as notícias sobre o confronto na Líbia deram uma acalmada, aqui vou eu postar um texto escrito há umas boas semanas, perdido e sozinho por aqui. Esse texto é uma miscelânea do que eu ouvi de professores graduados com meu sarcasmo minhas considerações.
         Não há como negar ou ignorar o confronto, guerra, revolta (tudo, menos revolução) e nem aquela intervenção internacional que é tudo, menos humanitária.
         Começo explicando, para quem ainda não sabe, o que acontece lá na Líbia. E quem não sabe não se sinta alienado – ou sinta caso queira, porque você é brinks-. Faz o seguinte, esqueça nossa [66]DEMOcracia [isso foi realmente ruim, cara]. PT na esquerda, PSDB na direita (ou vice-versa), povo votando. Lá o negócio é outro, meu amigo. Estamos falando de uma população que há anos é refém de uma ditadura daquelas. Não é só a falta de liberdade como se fosse pouco, pois o problema dói nos bolsos, galera. Sim, uma população extremamente pobre. Ora, assim fica fácil de deduzir o motivo dos protestos, o porquê da população pegar em armas para confrontar as tropas de Kadafi, o chefe de Estado. Eles querem o que qualquer outro povo brasileiros não se incluem nessas condições ia querer. Liberdade, emprego, qualidade de vida.
         Militares versus rebeldes. De um lado um exército intere$$ado em proteger Kadafi. Do outro pessoas –civis- motivados pelo ímpeto da mudança. Como, de fato, ela vai ocorrer ninguém sabe ao certo. Assim como no Egito, é esperar para ver.
         Acontece que nem todos os países querem apenas assistir. Foi aprovada pela ONU lê-se EUA a invasão interferência internacional no caso. Pra quê? Inocente, para ajudar é que não é. Chame como quiser: violação de direitos, invasão, safadeza, palhaçada, MENOS ajuda humanitária.
O que eles fizeram ? Vou dizer: escolheram um lado e o armaram. Por um filho da #$#%¨&$$#@ -ok ,sem descer o nível- acaso do destino, os que estão sendo armados são justo os próximos às reservas petrolíferas. Brincalhão esse destino.
Por que eles fizeram ? É lógico que eles querem meter o bedelho participar do processo de democratização. Até porque, tal como o Apartheid na África, o mundo fechou os olhos para o problema. Que se dane a ditadura, contanto que a Líbia continuasse a fornecer petróleo, tudo bem!
A “ajuda” é tanta que os civis já até pediram o cessar aéreo, o qual está matando mais eles do que os militares. O interesse em proteger a população (os que ainda não fugiram) é tanto que a ONU recusou a proposta de pacificação do Kadafi. Pois é, ele estava disposto a renunciar –contanto que não fosse morto, que tivesse lá sua segurança e dinheirinho etc-. Mas quem disse que aceitaram ? Não, querem a cabeça de Kadafi, independentemente de quantos morram a favor da causa! Afinal, os fins justificam os meios, não é?

sábado, abril 30

5 estágios de um político corrupto

Gente, tirei do canal no youtube chamado ''ja vi pior '', sem querer fazer propaganda (não sou paga isso rsrs), mas é um canal bem legal e rende risadas. O link tá em algum lugar do post! 

É um vídeo, minha gente, que ilustra as cinco fases de um político corrupto. Sem mais delongas, segue o vídeo:

 

Se estiver ruim e não der pra ver, segue o link dele 
http://www.youtube.com/watch?v=cc40n9rDlok

O que fazem os políticos?


    Eu quero dizer, além do que sabemos (roubos, extorsão, desvios de $ públicos e outros tantos). Eu sei que muita gente não conhece a nossa “democracia”. É, você mesmo (um dos meus cinco leitores), que votou nas últimas eleições para... para o que mesmo ?

        Pois é, vamos aos termos chatos. Começando lá do comecinho, há três poderes que configuram (sim eu to falando bonito hoje, gente) nosso governo. 

1-          Executivo: Bem difícil, ele executa as leis.
2-         Legislativo: Esse é muito importante, pois faz as leis.
3-         Judiciário: ele deve(ria) garantir o cumprimento das leis.



    E a lei? Ah, a lei! (Do latim..., parei, sério). Atualmente é documentada na Constituição (aquele livro que todos têm em casa). Ela é formulada pelo presidente ou senadores ou deputados. Em seguida, é votada pelo Congresso ou Assembléia Legislativa. Aí vooolta para o presidente que (se Deus quiser e o diabo não atrapalhar) vai aprová-la. Chega, né? Coisa chata, eu nem gosto de Direito (em pensar que tem gente que vive disso). 

   Por último, mas não importante, vem a (corja) galera bonita. É, os caras que participam dessas instituições todas.

Deputados Estaduais: (qualquer semelhança com “estado” é mera coincidência. Ou não). Representam a [ironia] população [/ironia] em SEUS ESTADOS. Ou seja, fazem as leis, fiscalizam aí o governador, votam nas leis blábláblá wiskasachê.

Deputados Federais: são – apenas- 513. Também nos representam, mas agora o buraco é mais embaixo porque é para TOOODO O BRASIL.

Senadores: esses representam os direitos dos estados. Ao todo são 81 . Além de fazerem o mesmo que os outros, ficam de olho no presidente.

Governador: cuida do estado que lhe é incumbido. Nomeia secretários, cargos públicos, vê em qual (bolso) setor o dinheiro entra e quanto... por aí vai. 

Presidente: ele nomeia muita gente (tipo ministros e ... ministros, né). Representa o Brasil mundo afora, pode vetar, fazer leis provisórias. Só não pode (ter dez dedos) passar por cima do legislativo.

A grosso modo é isso que eu tenho a dizer, pessoal. Agora me dêem licença que eu preciso voltar para a procrastinação!

sexta-feira, abril 8

MUDAS, TELEPÁTICAS

    Não tem como deixar passar uma tragédia como a que aconteceu no Rio de Janeiro. Não tem.
    Manhã, quinta-feira, era para ser um dia normal. E seria,  caso um ex-aluno da escola Realengo, Wellington Menezes, 23 anos, não tivesse invadido o local e atirado em adolescentes. São 12 crianças mortas, 28 feridas, incontáveis traumatizadas junto às famílias. Meu luto e sensibilização permeiam todo o texto, contudo não me impedem de pensar criticamente sobre o ocorrido.
   Há várias questões a considerar sobre as conseqüências que isso trará. Não digo para as crianças, ou familiares. Tentarei uma abordagem mais ampla.
   Primeiro, a mídia. Ah, a mídia. Logo correu, que nem formiga no bolo, para cobrir a tragédia. Até aí “aceitável”. Ou não. Até que ponto repórteres passam por cima de sentimentos para conseguir ibope? Forçam pessoas a falar em momentos de extrema tristeza, com perguntas inconcebíveis.  Além disso, não alertam para os problemas reais desse caso. Apenas mostram a tragédia em si, a dor, o sofrimento.  Vídeos com crianças desesperadas correndo ensangüentadas são melhores do que reflexões do problema que é a instituição pública no Brasil.
   Para ilustrar mais o papel rude da mídia copiei dois trechos de dois blogs, nos quais seus respectivos links estão no final do texto:
 “Uma menina em estado de choque é entrevistada e não se pode deixar de notar o esforço da repórter para tirar o que foi mais triste, forte ou covarde.              
O que interessa é despertar a emoção, para que o telespectador não troque de canal.”

"Uma única ação isolada não move a necessidade de instalar um novo sistema de segurança que mobilize todas as escolas." Disse o, até então muito sábio, Rodrigo Pimentel.
Quem já desceu do pedestal [...] poderia apontar rápido alguns casos de atos de violência dentro de escolas do Rio de Janeiro. Seja contra alunos, seja contra funcionários. Seja dentro da escola, seja vindo de fora dela.”

   Essa cobertura toda traz, ainda, novas possibilidades de acontecimentos semelhantes. Não são apenas cidadãos de bem que vêem os noticiários. Assassinos, pedófilos, seqüestradores e vários outros meliantes querendo chamar a atenção também. Não pensem, em sua inocência, que há apenas perturbados por aí; há quem queira chamar a atenção. Dois exemplos conhecidos são o  da menina Eloá –mantida em cativeiro e posteriormente morta pelo ex namorado-; o caso do ônibus 174 –no qual Sandro Barbosa Nascimento, sobrevivente da Chacina da Candelária, fez as pessoas de um ônibus reféns por cinco horas e acaba matando uma delas-.

   Por último, mas não menos importante: os pobres. Sim, os pobres que se vêem fadados a perpetuar essa pobreza por gerações, porque seus filhos fazem parte do caos do sistema educacional no Brasil. A escola, por pior que esteja, deveria ser uma instituição –ao menos!- de segurança, já que há muito de aprendizado não o é. Como os pais deixarão seus filhos em um local tão perigoso ? Mas essa consideração não vem de hoje, todos nós sabemos das ameaças que os professores recebem e nunca foi dada a devida atenção. Um ou outro caso aparecia na mídia, em meio a notícias de futebol e novelas.

   Agora o pior aconteceu. Agora é hora de remediar – ou melhor dizendo, remendar-. Porém, daqui a algumas semanas ou meses, todos terão esquecido o caso. Todos, menos as mães que perderam seus filhos. Todos, menos  as crianças que presenciaram seus amigos sendo baleados dentro da própria escola. Todos, menos aqueles que ficarão com as seqüelas dos tiros certeiros e bem treinados no tórax e cabeça. E então a escola vai voltar a ser o local onde se vai para comer e não para aprender.

Já dizia Ney:  pensem nas crianças...



Os links dos blogs de onde tirei as citações. Li e recomendo:

sábado, março 19

Esse papo de usina

Todos têm conhecimento das catástrofes do Japão. Tsunami, terremotos e, como se não bastasse, agora vem a Usina Nuclear de Fukushima e explode. Pronto, o mundo todo em foco com a notícia, claro que não era pra menos.
Desastres nucleares são perigosíssimos, não é a toa que denominamos ‘’desastres’’. Eles matam sorrateiramente, mostrando que o pior inimigo é o que não se pode ver. Um exemplo clássico é Chernobyl. Um dos reatores da usina explodiu em 1986 causando estragos incomensuráveis. Pessoas mortas afetadas por radiação, gerações sofrem ainda com anomalias genéticas e enfermidades. Se vocês pensam que as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki causaram problemas, saibam que a radiação proliferada em Chernobyl foi 400 vezes mais forte. É, com Césio – 137 não se brinca. Mesmo décadas depois da explosão a região é tida como “Zona Fantasma”. Nada que se planta cresce, nenhum habitante, até os insetos que por lá se arriscam vivem menos.
No Brasil, em Goiana, trabalhadores desinformados tiveram contato com esse mesmo Césio - 137, um elemento brilhante que escondia seu perigo na bela cor violeta. Os lixeiros apresentaram o elemento à família, amigos... Todos passaram o líquido brilhante na pele. Morreram contaminados pela radiação.
É por isso que a explosão da Usina Nuclear no Japão gerou uma mobilidade mundial a respeito do modo com que se trata a radiação. Ora, todos sabem que o Japão tem nerds sem vida social engenheiros altamente capacitados. Por estarem sujeito a esses abalos devido às formações recentes da ilha, as construções são feitas de maneira que possam suportá-las. Mesmo assim, eles não conseguiram, ou não acharam viável se é que você$ me entendem construir uma usina que suportasse um terremoto e um tsunami.
Agora o mundo anda preocupado com as suas usinas. É claro que, com ‘’mundo’’ não incluo Brasil & América Latina. A Alemanha ordena fechamento de reatores anteriores a 1980; Suíça suspende temporariamente os projetos de reforma das centrais; Índia e Rússia mandam revisar usinas; dizem as más línguas que até Obama entrou na onda de revisão geral.
            Mas é claro que nós não precisamos disso! Os caras que conhecem o assunto dizem que não há porque temer. O Brasil tá aqui, no meio de uma placa tectônica, bem de boas. Não tem vulcão ativo, terremoto não chega, então pra que revisar? O representante da Eletronuclear (responsável pelas usinas daqui) diz que as medidas tomadas pela Suíça "são puramente emocionais". Trocando em miúdos, as obras não pararão.

            Quem sou eu pra questionar o que os nossos especialistas no assunto falam, porém eu devo salientar que acho estranho: no resto do mundo há uma revisão/preocupação geral e no Brasil não há necessidade?  

>Para mais informações:
http://bit.ly/g3idde

OITO DE MARÇO


   Deixe-me tirar o pó desse blog. De fato uma faxineira deveria vir aqui. É melhor nem olhar muito porque é capaz de ter barata voando sim, eu sou muito engraçada.
    Bom, eu vou fazer mais uma exceção a regra com esse post, pois o blog é meu e eu ponho o que eu quiser esse texto foi feito ano passado por mim em homenagem ao dia internacional da mulher. Eu, particularmente, acho esse dia muito importante e - apesar de já ter passado – quero deixar essa historinha aqui.
   Para quem não sabe, embora todos devessem, esse dia surgiu quando 300 funcionárias de uma fábrica exigiram salários iguais aos homens (nada mais justo, já que o trabalho era o mesmo) e, em resposta, foram queimadas. Até hoje não há essa igualdade, diga-se de passagem, governos são obrigados a fazer cotas para o ingresso da mulher no cenário executivo. Um absurdo! Mas enfim, aqui vai a narração carinhosamente elaborada em quatro horas.

                                                                 
OITO DE MARÇO

            Em uma casa antiga, no bairro de Perdizes, um arquiteto lia o quinto capítulo de “Emílio”, escrito por Rosseau, enquanto sua mulher fazia o jantar. Ele pensava em filosofia, ela na viagem de férias. Queria conhecer um lugar novo, mas o homem preferia ir novamente à França, à romântica Paris - ou melhor, ao velho Pantheón-. A TV estava ligada enquanto passava o noticiário.
            Esposa mantém homem refém”.
            Desligou. Foi dormir.
            No dia seguinte, o arquiteto foi tomar café – com leite e descafeinado - que sua mulher lhe servia. A mulher falava da vontade de recomeçar a faculdade (tinha parado quando engravidou). O homem murmurou que tudo bem, desde que não atrasasse o jantar.
            Na capa do jornal, uma mulher de avental com uma faca de cozinha na mão, aparentemente na janela obscura de um cômodo qualquer. “Esposa ameaça matar...”. Fechou o jornal. Foi trabalhar.
            Estava um caos lá fora, um trânsito maior que o normal Que será que tinha acontecido ? O arquiteto ligou o rádio: “Julieta disse que matará o homem com quem vive há dez anos...”. Mudou de estação: “A mulher está totalmente desprovida de sanidade mental...”. Outra vêz: “Pessoas se sensibilizam com a situação, uma multidão se encontra no local, inclusive uma mulher loira, que chora compulsivamente em frente ao prédio da vítima: - Como uma esposa pode fazer isso com o marido? É horrível! Ele sempre tão bonzinho...”-.Uma última: “A polícia cercou o local e interditou a rua que fica em Perdizes...” Colocou na FM, mas a notícia o perseguia. Desligou o rádio. Tentou caminhos alternativos.
Enquanto isso, Joana arrumava a casa, pensando em nada. Lavava, limpava os livros do marido; passava sem perceber por filósofos renomados tal como Pitágoras, Aristóteles e Kant.
            No dia seguinte o trânsito não diminuiu. Outro dia e nada. Nem no outro. Os caminhos alternativos não surtiam mais efeito, pois o trânsito se estendia a eles também. A notícia ainda tomava conta do rádio, televisão, jornal, não se falava em outra coisa.
            Desligou o rádio e a TV; fechou o jornal e a revista; tapou os ouvidos para os comentários. Uma mulher assim não merecia sua atenção. Então reclamou do jantar, Joana ainda falava em faculdade. O homem foi dormir com sua mulher.
                        Por fim, no dia oito de março, o trânsito voltou ao normal. A notícia se foi, mas a curiosidade pairava no ar. O que será que acontece? A mulher matou o homem? Foi presa? Matou-se? Tudo acabou bem? Ligou o rádio: “Na classificação geral do brasileirão...”. Mudou de estação: “Uma frente fria avançará sobre...”. Outra vez: “estréia em cartaz essa semana...”. Uma última: “você quer ganhar ingressos para o show...?”. Colocou na FM, mas a informação não era mais notícia. Desistiu de trabalhar e foi procurar o caso dessa mulher louca, achou em um velho jornal de dois dias atrás:
            “Mulher desvairada mata o marido a facadas
            Julieta dos Santos, 35 anos, mata o marido após uma semana de confinamento na residência onde os dois moravam. Testemunhas contam que não ouviram, nem viram nada de atípico no apartamento no dia em que a esposa aplicou sedativos no homem e o amarrou ao fogão. Vizinhos falam, ainda, que não eram comuns as brigas entre o casal. [...] Julieta entregou-se à polícia logo após matar o marido com uma faca de cozinha e disse – no ápice de sua insanidade mental- que não iria oferecer resistência desde que não fosse algemada. Segundo a mulher, esta já teria sido muito algemada, no entanto as autoridades negaram qualquer passagem de Julieta pela polícia.”
             Pensou...
       Talvez fosse melhor Joana fazer uma faculdade, indagava o arquiteto. Pensava em deixá-la escolher também o destino da viagem (Estados Unidos, Casa da Cascata?). É, ia deixar sim.
            O marido deixou o jornal no banco de trás. Correu para comprar flores para a esposa. Tarde demais. Mal sabia que a esposa largara o jantar e desvendava seu “mito da caverna”. Afinal, era oito de março.