sexta-feira, abril 8

MUDAS, TELEPÁTICAS

    Não tem como deixar passar uma tragédia como a que aconteceu no Rio de Janeiro. Não tem.
    Manhã, quinta-feira, era para ser um dia normal. E seria,  caso um ex-aluno da escola Realengo, Wellington Menezes, 23 anos, não tivesse invadido o local e atirado em adolescentes. São 12 crianças mortas, 28 feridas, incontáveis traumatizadas junto às famílias. Meu luto e sensibilização permeiam todo o texto, contudo não me impedem de pensar criticamente sobre o ocorrido.
   Há várias questões a considerar sobre as conseqüências que isso trará. Não digo para as crianças, ou familiares. Tentarei uma abordagem mais ampla.
   Primeiro, a mídia. Ah, a mídia. Logo correu, que nem formiga no bolo, para cobrir a tragédia. Até aí “aceitável”. Ou não. Até que ponto repórteres passam por cima de sentimentos para conseguir ibope? Forçam pessoas a falar em momentos de extrema tristeza, com perguntas inconcebíveis.  Além disso, não alertam para os problemas reais desse caso. Apenas mostram a tragédia em si, a dor, o sofrimento.  Vídeos com crianças desesperadas correndo ensangüentadas são melhores do que reflexões do problema que é a instituição pública no Brasil.
   Para ilustrar mais o papel rude da mídia copiei dois trechos de dois blogs, nos quais seus respectivos links estão no final do texto:
 “Uma menina em estado de choque é entrevistada e não se pode deixar de notar o esforço da repórter para tirar o que foi mais triste, forte ou covarde.              
O que interessa é despertar a emoção, para que o telespectador não troque de canal.”

"Uma única ação isolada não move a necessidade de instalar um novo sistema de segurança que mobilize todas as escolas." Disse o, até então muito sábio, Rodrigo Pimentel.
Quem já desceu do pedestal [...] poderia apontar rápido alguns casos de atos de violência dentro de escolas do Rio de Janeiro. Seja contra alunos, seja contra funcionários. Seja dentro da escola, seja vindo de fora dela.”

   Essa cobertura toda traz, ainda, novas possibilidades de acontecimentos semelhantes. Não são apenas cidadãos de bem que vêem os noticiários. Assassinos, pedófilos, seqüestradores e vários outros meliantes querendo chamar a atenção também. Não pensem, em sua inocência, que há apenas perturbados por aí; há quem queira chamar a atenção. Dois exemplos conhecidos são o  da menina Eloá –mantida em cativeiro e posteriormente morta pelo ex namorado-; o caso do ônibus 174 –no qual Sandro Barbosa Nascimento, sobrevivente da Chacina da Candelária, fez as pessoas de um ônibus reféns por cinco horas e acaba matando uma delas-.

   Por último, mas não menos importante: os pobres. Sim, os pobres que se vêem fadados a perpetuar essa pobreza por gerações, porque seus filhos fazem parte do caos do sistema educacional no Brasil. A escola, por pior que esteja, deveria ser uma instituição –ao menos!- de segurança, já que há muito de aprendizado não o é. Como os pais deixarão seus filhos em um local tão perigoso ? Mas essa consideração não vem de hoje, todos nós sabemos das ameaças que os professores recebem e nunca foi dada a devida atenção. Um ou outro caso aparecia na mídia, em meio a notícias de futebol e novelas.

   Agora o pior aconteceu. Agora é hora de remediar – ou melhor dizendo, remendar-. Porém, daqui a algumas semanas ou meses, todos terão esquecido o caso. Todos, menos as mães que perderam seus filhos. Todos, menos  as crianças que presenciaram seus amigos sendo baleados dentro da própria escola. Todos, menos aqueles que ficarão com as seqüelas dos tiros certeiros e bem treinados no tórax e cabeça. E então a escola vai voltar a ser o local onde se vai para comer e não para aprender.

Já dizia Ney:  pensem nas crianças...



Os links dos blogs de onde tirei as citações. Li e recomendo:

2 comentários:

  1. Muito interessante o assunto, a mídia ela explora o sentimento das pessoas, para dar Ibope sim, eles pegam crianças, familiares, que estão em estado de choque e fazem perguntas tão incabíveis no momento. Ao em vez de tratar da falta de segurança que tinha nessa escola.

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  2. Adorei a parte q pobre eh sempre pobre e ponto final

    xD

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